Entenda papel de cada integrante em esquema que desviava medicamentos para tratamento de câncer
Justiça condenou seis pessoas pelo desvio de remédios de farmácia judicial, somando prejuízo de R$ 1,1 milhão. Penas variam de 12 anos a 18 anos de prisão...
Justiça condenou seis pessoas pelo desvio de remédios de farmácia judicial, somando prejuízo de R$ 1,1 milhão. Penas variam de 12 anos a 18 anos de prisão. Cabe recurso. Justiça condena seis pessoas por desvio de R$ 1,1 mil em remédios para tratar câncer Os seis condenados nesta quinta-feira (7) pela participação em um esquema criminoso de desvio de medicamentos para tratamento de câncer da farmácia judicial do Departamento Regional de Saúde 7 (DRS-7) causaram um prejuízo ao Estado de R$ 1,1 milhão. Entenda abaixo qual papel de cada integrante. Segundo a sentença, o grupo criminoso era comandado por Gleidson e Michael, que atuavam em Vitória (ES) e Campinas (SP), respectivamente, e negociavam os medicamentos que deveriam ser furtados. Quem realizava os pagamentos era Julianna, esposa de Gleidson. Michael, por sua vez, mantinha contato com Gleidson de forma exclusiva e repassava a relação de remédios para a própria sogra, Maria do Socorro, e depois para o marido dela, José Carlos. Michael também vendia medicamentos para terceiros e chegou a anunciar na plataforma OLX. "Constituírem organização criminosa estável, duradoura, com o escopo de subtraírem, como de fatos subtraíram, de forma reiterada, metódica, planejada, organizada, com divisão de tarefas bem definidas, medicamentos de alto custo, que causaram substancial prejuízo ao erário, superior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) se considerados apenas os medicamentos citados na denúncia, que certamente não foram os únicos subtraídos, e que tudo indica foi uma parcela pequena dos fármacos furtados", diz trecho da condenação. Servidor, esposa, genro e enteada são condenados pela participação nos desvios de medicamentos para tratamento de câncer Montagem g1 Entenda, abaixo, quem são e como atuavam cada um dos condenados: Núcleo de Campinas (SP) Gabriela Pereira de Carvalho Esposa de Michael, filha de Maria do Socorro e enteada de José Carlos. Trabalhou na Secretaria de Saúde como controladora de acesso tercerizada. Responsável pelo transporte e o envio dos medicamentos junto com o marido. Maria do Socorro Pereira dos Santos Esposa de José Carlos há quatro anos e mãe de Gabriela. Responsável por repassar a listagem dos medicamentos que ele deveria ser levados. Recebia em sua conta pessoal os valores advindos das vendas ilegais. José Carlos dos Santos Marido de Maria do Socorro há quatro anos e padrasto de Gabriela. Servidor público que trabalhava na farmácia judicial e era responsável por furtar os remédios. Os medicamentos eram escolhidos a partir de uma lista entregue pela esposa, Maria do Socorro. Michael César Ferreira de Carvalho Marido de Gabriela e genro de José Carlos. Responsável por definir os medicamentos que seriam subtraídos, intermediar a venda e enviar os produtos. Além disso, recebia os pagamentos e distribuia aos demais membros da organização. Era bispo da igreja Assembleia de Deus, onde Gabriela atuou como missionária. Ele diz que conheceu uma pessoa disposta a adquirir remédios de alto custo por uma rede social e propôs a José Carlos que subtraísse os medicamentos. Núcleo Vitória (ES) Julianna Ritter Lopes Uma das compradoras, responsável pelos pagamentos dos medicamentos e por entrar em contato com o destinatário final (hospitais, clínicas, empresas e particulares). Gleidson Soares Lopes Ritter Comprador e principal receptador dos medicamentos. Negociava diretamente com Michael os medicamentos que seriam furtados. O escritório Campagnollo & Bueno Advogados, responsável pela defesa de Julliana Ritter Lopes e Gleidson Soares Ritter Lopes responderam, em nota, que reforçam a inocência do casal alegando que eles não sabiam que os remédios que vendia eram desviados e que vão recorrer da decisão. (leia a nota da íntegra no fim da matéria) Condenação Servidor público e mais 5 pessoas são condenadas desvio de remédios para tratar câncer A Justiça condenou nesta quinta-feira (7) seis pessoas, entre elas um servidor público, pelo desvio de medicamentos da farmácia judicial do Departamento Regional de Saúde 7 (DRS-7). Os remédios furtados, usados para tratamento de câncer, somam R$ 1,1 milhão. As penas variam de 12 anos e um mês a 18 anos e dois meses. Cabe recurso. O caso que deu início à investigação aconteceu no final de 2023, mas segundo a Polícia Civil, não foi isolado. O servidor do SUS, José Carlos dos Santos, desviava os produtos pelo menos um ano antes da operação que resultou na prisão. Veja quem são e quais as penas dos condenados: José Carlos dos Santos: servidor público da farmácia judicial. Foi condenado a perda do cargo, 12 anos e um mês de reclusão, além de 53 dias-multa. Maria do Socorro: esposa de José Carlos. Foi condenada a 12 anos e um mês de reclusão, além de 53 dias-multa. Gabriella Carvalho: enteada de José Carlos. Foi condenada a 12 anos e um mês de reclusão, além de 53 dias-multa. Juliana Ritter (foragida): Foi condenada a 12 anos e um mês de reclusão, além de 53 dias-multa. Michael Carvalho (apontado como um dos chefes da organização): marido de Gabriela e genro de José Carlos. Foi condenado a 14 anos e sete meses de reclusão, além de 62 dias-multa. Gleidson Lopes Soares (apontado como um dos chefes da organização - foragido): comprador dos remédios no Espírito Santo. Foi condenado a 18 anos e dois meses de reclusão, além de 77 dias-multa. Todos os réus foram condenados por peculato e organização criminosa. Eles também tinham sido denunciados por armazenar incorretamente os medicamentos furtados, o que gerou o descarte deles. O juiz Caio Ventosa Chaves, da 4ª Vara Criminal de Campinas, apontou que, como os remédios foram descartados, não há registro de prova material, o que levou à absolvição. O caso O furto de R$ 1,1 milhão em remédios contra o câncer da farmácia judicial do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Campinas (SP), no final de 2023, não foi um caso isolado. Em janeiro deste ano, o Fantástico conseguiu com exclusividade imagens e áudios da atuação da quadrilha e teve acesso aos detalhes da investigação que revelam o trajeto dos remédios das geladeiras da farmácia do DRS até os receptadores. Quadrilhas roubam remédios de alto custo, comprados com dinheiro público, para vender ilegamente À época da investigação, o delegado da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas, Elton Costa, já apontava Michael como um dos chefes da organização. "O Michael acreditamos que seja o cabeça do esquema porque foi ele que possibilitou a criação do mercado ilegal. Sem mercado, sem demanda, não haveria interesse e possibilidade que o funcionário José Carlos fizesse os furtos", afirmou o delegado Elton Costa, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas. Casal de Serra (ES) é suspeito de atuar na receptação dos remédios furtados Reprodução/TV Globo José Carlos, Maria do Socorro e Gabriella estão presos desde o início do mês por determinação da Justiça. Ao Fantástico, a defesa de José Carlos, Maria e Gabriella negou que eles tenham furtado os medicamentos contra o câncer, mas reconheceu que José desviou alguns medicamentos do SUS. Já a defesa de Gleidson e Juliana disse que ela não sabia do esquema e ele não tinha ciência de que os remédios eram furtados. Veja o posicionamento dos advogados na íntegra no final desta reportagem. Como atuava servidor e seus familiares Segundo a Polícia Civil, remédios de alto custo da farmácia judicial de Campinas estavam sendo desviados há pelo menos um ano e eram vendidos e enviados em caixas de isopor para um casal no estado do Espírito Santo. 📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp José Carlos era o responsável por furtar os remédios de dentro da farmácia, onde trabalhava. Investigadores disseram que o servidor público sempre levava uma mochila grande para o trabalho. "Vimos que trazia com ele uma mochila, mochila grande. Efetivamente ele se utilizava dessa mochila para levar os medicamentos. E essa mochila precisava ser grande porque muitos medicamentos precisavam ser levados em caixas de isopor. E isso foi muito conclusivo porque as caixas de isopor encontradas na casa dele era necessário serem transportadas numa mochila daquele tamanho", explicou o delegado. Câmeras de Segurança flagraram Michael e Gabriella em empresa de despacho aéreo Reprodução/TV Globo Gabriella Carvalho e o marido, Michael, eram os responsáveis por vender e despachar os remédios por meio de empresas de logística aérea no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. "Nós fomos na casa dessa moça (Gabriela) e lá encontramos diversos objetos que mostram que os remédios estiveram lá. E encontramos alguns remédios guardados na geladeira e alguns guardados pela casa. Tornou-se inequívoca a participação (do casal)". Maria do Socorro era faxineira de profissão, mas foi apontada como responsável por encaminhar os pedidos de Michael para José e receber a parte deles no esquema. Investigadores encontraram comprovantes de depósitos pix na conta dela, que confessou participação no esquema. "Esses 200 mil na conta era de faxina?", perguntou a polícia. "Não, era das ações do Zé Carlos", respondeu Maria. Em um áudio obtido pelo Fantástico, Michael faz pedidos para Maria do Socorro. "Manda mensagem para ele. Liga para ele. Manda carta. Manda aqueles carros que faz som do lado de fora: Zé Carlos, enche o mochilão". Caixas de medicamentos foram encontradas na casa do servidor, mostra delegado João Gabriel Alvarenga/g1 Receptadores lideram uma ONG no ES Segundo a polícia, os comprados dos remédios desviados eram Gleidson Lopes e Juliana Ritter. Eles dirigem uma ONG de apoio a pessoas com dificuldade de locomoção em Serra (ES). Juliana ainda é assessora parlamentar e dona da Saúde e Vida Comércio e Representações, empresa de produtos hospitalares. Investigadores conseguiram rastrear transferências bancárias das contas de Juliana e da empresa dela para Maria do Socorro. Além disso, o carro de luxo que estava com Michael e Gabriella era registrado no nome de Juliana, por isso, a polícia suspeita que o pagamento do veículo era feito com remédios furtados. "Tagriso, vemclexta, stelara de 90. O que tiver pode trazer para gente quitar o carro. Quitar o carro, mais rápido, melhor", diz um áudio de Michael obtido pela Polícia. Para a polícia, não há dúvida da ligação da família do servidor com o casal do Espírito Santo. "Então, existe um liame entre todos, que liga todos. Seja por troca mensagem por celular, seja por transação financeira", afirmou Fernando Bardi, diretor da Polícia Civil na região de Campinas. O que falta esclarecer A Polícia Civil ainda quer esclarecer quem eram os compradores finais dos medicamentos e o quanto o casal de Serra lucrava com o esquema. Impacto nos pacientes O remédio furtado no final do ano da farmácia é o Pembrolizumabe, poderoso imunoterápico usado contra vários tipos de cânceres. Uma das 79 caixas furtadas era do paciente Sílvio Barone, de 69 anos, que obteve decisão da Justiça obrigando o governo do estado a fornecer o medicamento. "Só tem um medicamento que combate isso (o câncer dele). Esse medicamento, que coincidentemente é tecnologicamente muito forte, ele é tudo, ele é minha esperança", contou Barone. Pembrolizumabe é imunoterápico ultramoderno, diz oncologista Arquivo pessoal Segundo o paciente, ele chegou a ir três vezes na farmácia judicial da DRS, mas voltava para casa sem o medicamento e sem nenhuma explicação para a falta. Só depois soube do furto. "Ele não roubou valores, ele não roubou uma caixa de sorvete, ele roubou um par de sapato. Ele roubou a expectativa de vida de uma família, de uma pessoa que trabalhou a vida inteira", lamentou Barone, que teve o medicamento reposto no dia 12 de janeiro. O que diz a defesa dos citados A advogada Giovana Casemiro Garcia, que representa José, Maria e Gabriella, negou eles tenham furtado a carga de R$ 1,1 milhão em medicamentos contra o câncer, mas admitiu que o servidor desviou alguns remédios da farmácia. "A confissão deles vem para colaborar com a nossa tese defensiva de que eles devem ser responsabilizados pelos atos que cometeram, mas na medida de suas culpas". O advogado que representa Gleidson Lopes e Juliana Ritter afirmou que ela não tinha nenhuma participação na compra dos remédios e que ele não sabia que os medicamentos eram furtados. Disse ainda que Juliana confiava suas contas bancárias ao marido. "Então, a esposa forneceu essa possibilidade para que ele, uma relação de confiança esposa e marido, pudesse gerir, pudesse trabalhar utilizando as contas bancárias pessoa física dela e a empresa que estava em nome dela pela mesma razão", disse o defensor. Sobre o carro de luxo de Juliana que estava com Michael, o advogado disse que o homem estava ajudando ela a vender. "Michael ficou incumbido de vender e ganharia um valor de comissão por vender esse carro". A defesa de Michael não foi localizada. Defesa de Julianna e Gleidson após a condenação O escritório Campagnollo & Bueno Advogados, responsável pela defesa de Julliana Ritter Lopes e Gleidson Soares Ritter Lopes, recebeu com surpresa e discordância a decisão que condenou seus clientes por falsificação, corrupção, peculato e organização criminosa no caso de desvio de medicamentos da farmácia judicial do Departamento Regional de Saúde 7 (DRS-7) de Campinas. A defesa reforça a inocência de Julianna e Gleidson e informa que o empresário não sabia que os remédios que vendia eram desviados por funcionário público. Julianna, por sua vez, não sabia de nada, pois era seu marido quem ficava à frente da empresa que estava em seu nome. Sua inocência só não foi provada porque o juiz não autorizou ofício ao banco para confirmar quem, de fato, fazia as transferências para Michaele. Isso demonstraria que ela não participou dos fatos imputados. Embora respeitem a decisão, os advogados Danilo Campagnollo Bueno e José Sérgio do Nascimento Júnior entendem que a pena aplicada é desproporcional aos fatos e informam que vão recorrer da decisão. O que diz o governo do estado A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo disse em nota que suspendeu o pagamento do José Carlos e que o Departamento Regional de Saúde, onde ficam os remédios, mudou os protocolos de segurança e acesso. Afirmou ainda que abriu processo licitatório para repor o estoque dos medicamentos furtados. Departamento Regional de Saúde 7 (DRS-7), em Campinas Reprodução/EPTV VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região no g1 Campinas